O Diário de Jaime Gama

Segunda-feira, 8 Janeiro 2007 (10:57)

Na passada semana, os deputados da Assembleia da República, sob a batuta de Jaime Gama, dedicaram quase dois minutos e meio inteirinhos por petição a estudar os documentos entregues por diversos grupos de cidadãos. Uma prova cabal de que as intervenções dos eleitores não caem em saco roto e de que os deputados consagram tanto tempo às solicitações da sociedade civil como às pausas para fumar um cigarro ou aliviar os intestinos. Diante das evidências, vejo-me obrigado a dar a mão à palmatória: a democracia representativa é um sistema justo, equitativo e, até, mensurável. E vale tanto como um cagalhão seco…E dos compridos. Daqueles que demoram um bom par de minutos a escapulir-se do aparelho rectal e não fazem questão de sair sem antes nos acossarem o baixo ventre com umas dores (fininhas ou grossas, consoante o volume do trágefo peristáltico) bem fodidas.

Para ilustrar o grau de abnegação dos “profissionais da política” – tantas vezes, injustiçados pela inveja e mesquinhez da voz popular -, publicamos hoje um capítulo do Diário de Jaime Gama.

7h00 – Acordo com o despertador no apartamento da Verónica. Estou de rastos. Ela tem 22 anos e é insaciável. E eu já não tenho a genica de antigamente.

7h05 – A Verónica acorda. Leu na Cosmopolitan, ou na Maxima, sei lá, que os homens têm os níveis de testosterona mais elevados pela manhã e quer rever algumas posições que ficaram por esclarecer na noite passada. Não sei se vou conseguir.

7h15 – Ligo para casa a dizer que cheguei mesmo agora de Paris. E explico que tenho de seguir directamente para a Assembleia. E que estou cheio de saudades…

8h00 – Saio do banho, mas a Verónica quer juntar-se a mim no duche. Consigo desembaraçar-me. Quase à força…

8h30 – Sou o primeiro a chegar à Assembleia. Não há ninguém à vista. Parece um casa-assombrada. Bom, seria, não fosse o caso de se ouvirem alguns gemidos no gabinete do PP. Deve ser a Teresa Caeiro e um dos seus motoristas. Lembrei-me agora que ela ontem ficou a trabalhar até mais tarde na campanha anti-aborto.

9h00 – Tomo o pequeno-almoço. A Teresa Caeiro vem aí. Tenho que lhe dizer para arranjar a saia…e retocar o bâton. Meu Deus, será que ela nem vai tomar banho?

9h05 – Teresa Caeiro deixa-me sozinho a tomar o pequeno-almoço. Parece que já chegou o novo estagiário do bar. Teresa Caeiro vai dar-lhe as boas-vindas. Esta mulher é imparável.

10h00 – Abro a sessão parlamentar. Há três deputados (dois do BE e um do PCP) , sete mini-gravadores Sony, três mini-discs (não consigo ver a marca daqui), um caniche no lugar da Teresa Caeiro e dez pescadores sindicalistas nas galerias. Já passou tanto tempo e ainda usam aqueles casacos de cabedal e patilhas mal aparadas. Temos mesmo que começar a controlar a indumentária aqui na Assembleia.

11h20 – Está mais composto o hemiciclo. Já chegaram quatro deputados do PS…não, um deles é um boneco de borracha…ali estão mais dois na bancada do PSD e o Paulo Portas na do PP. Nunca vi antes aquele gajo ao lado do Paulo Portas (ia jurar que não é deputado, mas acho que já o vi antes na Caras). Foi aprovada a nova lei de recolha de dejectos animais na via pública. Oito votos a favor, duas abstenções (o boneco de borracha e o amigo do Portas) e um contra (o caniche da Teresa Caeiro).

11h30 – Pausa para café de cinco minutos.

12h00 – Regresso à sessão parlamentar.

12h20 – Agora, sim, estamos com meia casa. Quem é o gajo ao lado da Teresa Caeiro? Ah, é o amigo do Portas. Os deputados vão discutir a lei das finanças locais. Dou dez minutos a cada bancada. Finalmente, vou poder passar pelas brasas. E compensar os excessos dispendidos com a Verónica na noite anterior.

13h00 – Concluo a sessão matinal.

13h46 – Almoço no Porco Preto com a Maria de Belém. Estou aqui há 45 minutos e ainda não ouvi uma palavra do que ela disse. Se calhar, vou-lhe dizer que tenho uma reunião que me obriga a abandonar a refeição mais cedo.

13h50 – Pago a conta ao balcão e a Maria de Belém continua a falar…sozinha. Acho que não deu pela minha saída.

14h00 – Vou encontrar-me com a Joana. Afinal, tenho que dar uso ao apartamento do Príncipe Real. Ufa, esta ainda é pior do que a Verónica.

14h50 – Vou medir a tensão à farmácia. 16/13. Tenho que passar a encontrar-me menos vezes com a Joana. Ou, então, vou deixar de almoçar no Porco Preto.

15h05 – Reinicio a sessão parlamentar. Estão ali uns tipos com uns caixotes. Será que o BE trocou pela terceira vez de deputados esta semana? Dizem-me que temos de discutir umas petições. E hoje isto está cheio de jornalistas! É melhor despachar esta merda.

15h10 – Vou dar aos deputados um pouco mais de dois minutos por petição. O porco preto está-me aqui entalado. É melhor ir à casa de banho. Vou levar a petição sobre os fundos da Barraca para ajudar a empurrar.

15h20 – Esta merda, hoje, está difícil. Tenho de comer mais vegetais.

15h30 – Saio da casa-de-banho. Oiço gemidos na casa-de-banho das senhoras. Deve ser outras vez a Teresa Caeiro.

15h40 – Regresso ao hemiciclo. Não sei onde é que pus a merda da petição sobre a Barraca…

15h45 – Acho que já chega desta conversa fiada das petições. Vamos avançar para os resultados e depois mando toda a gente para o lanche.

16h00 – Falta uma hora para deixar este buraco. Não sei como é que vou ocupar o tempo. Se calhar, pode ser a lei de higiene pública nos quartéis. Vou começar pelo Portas e deixo-o a falar mais tempo do que os outros. Depois, passo para o Louçã e quando dermos pelo tempo já está na hora de nos pormos a andar.

17h00 – Encerro a sessão. Entrou, agora, a Caeiro na bancada do PP. Quem são aqueles dois ao lado dela?

17h30 – Estou em casa da Verónica. Vou tomar um banho e preparar-me. Ela hoje traz uma amiga.

18h00 – Abro a porta. Aí vem a Verónica e…a Teresa Caeiro. Não é possível! Esta gaja anda a dar na coca…

19h30 – Verónica e Teresa Caeiro devoram, cada uma, 15 linhas de cocaína. É melhor tomar uma dose dupla de Viagra.

20h30 – Telefono para casa a dizer que vou chegar tarde.

22h00 – Janto com o Belmiro de Azevedo no Gambrinus. Não o querem deixar entrar. Tenho de ir à porta buscá-lo. Quer que eu antecipe a discussão das concessões das novas redes de 4G.

00h00 – Bebo um Chivas no Elefante Branco. Com muita água e pouco whisky. Tenho de tomar o Stilnox e depois corta o efeito. O que é que está ali a fazer a Teresa Caeiro?

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Verónica, 22 anos, estudante de Ciências Políticas

2 Respostas to “O Diário de Jaime Gama”

  1. Espalha Brasas said

    E o dia seguinte?

  2. nenuco said

    A Teresa Caeiro vai assistir a um jogo de râguebi…

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