Ocasos de Polícia
Domingo, 6 Maio 2007 (16:47)
# OCASO 1
Processo 0003456/W
DESCRITIVO
À porta do estabelecimento comercial nocturno “W”, uma cidadã foi impedida de entrar no referido espaço por um dos seguranças em serviço.
ANEXO:
Descrição da ocorrência
Processo 0003456/W
A cidadã aproximou-se da porta de entrada do estabelecimento comercial “W” e mostrou um convite que dispensava o pagamento de uma taxa de acessibilidade. Segundo testemunhas oculares, entre o segurança e a cidadã estabeleceu-se o seguinte diálogo.
SEGURANÇA – É só um bocadinho.
A cidadã aguarda nova indicação.
SEGURANÇA – Desculpe, a senhora não está em condições de entrar.
CIDADÃ – Como? Não estou em condições de entrar?
SEGURANÇA – Não, a senhora tem de aguardar aqui.
CIDADÃ – Tenho de aguardar aqui! Mas por que razão?
SEGURANÇA – A senhora está alcoolizada e não pode entrar.
CIDADÃ – Estou alcoolizada! Como é que o senhor sabe isso?
SEGURANÇA – A senhora não está em condições de entrar.
Um cidadão que acompanhava a cidadã intervém.
CIDADÃO – Desculpe, mas não me parece que a taxa de álcool desta senhora seja relevante como critério de acesso…
SEGURANÇA – Então, não vê que a senhora está alcoolizada! A senhora não pode entrar!
CIDADÃO – Desculpe, mas, além de estar a fazer uma afirmação que carece de fundamento, como lhe disse, os eventuais níveis de álcool desta senhora não são relevantes para impedir o seu acesso a este espaço! Caso contrário, possivelmente, 70 a 80 por cento dos restantes clientes também não reuniriam condições para entrar.
SEGURANÇA – Como é que o senhor sabe que 70 por cento das pessoas que entraram estão alcoolizadas?
CIDADÃO – Não sei. Tal como o senhor também não sabe se esta senhora está alcoolizada ou não. Mas sei que eu estou alcoolizado e a mim e o senhor não me impediu de entrar.
SEGURANÇA – Mas o senhor está em condições de ter uma conversa comigo e esta senhora não!
CIDADÃO – Ah, então o critério de entrada nesta discoteca é a disponibilidade que os clientes revelam para manterem diálogos com os seguranças?
CIDADÃ – O senhor não pode fazer isto! Não me pode impedir de entrar.
SEGURANÇA – São 150 euros.
CIDADÃO – Espere, estou um pouco baralhado…As pessoas que não revelem disponibilidade para manterem uma conversa de ocasião com o segurança têm de pagar 150 euros para entrar? É isso?
SEGURANÇA – O senhor está a querer ensinar-me a mim como é que se trabalha? Eu sei ver se uma pessoa está alcoolizada ou não!
CIDADÃO – Então, se a senhora pagar 150 euros deixa de estar alcoolizada? E nesse caso, eu, que estou realmente alcoolizado, também deveria pagar 150 euros?
SEGURANÇA – Mas o senhor está em condições de falar comigo!
CIDADÃO – Nesse caso, como fui bafejado com o dom da palavra, não preciso de pagar 150 euros…
RELATÓRIO
O segurança violou o dispositivo legal vigente ao impedir a cidadã de entrar no estabelecimento comercial, uma vez que o grau de alcoolemia da cidadã não constitui razão de impedimento válida. O segurança incorreu em nova violação legal ao pedir um segundo valor de entrada, 150 euros, que não correspondia ao valor inicialmente requerido.
Agente-Chefe Silva
PSP de Alcântara
# OCASO 2
DESCRITIVO
Cinco cidadãos que tinham acompanhado a cidadã constante do ocaso 2, referente ao espaço comercial “W”, foram identificados na prática de contra-ordenação respeitante à utilização de substância proibida.
ANEXO
Descrição da ocorrência
Processo 000456 W/b)
Entre os agentes de autoridade e os cinco cidadãos que incorreram em prática de contra-ordenação estabeleceu-se o seguinte diálogo.
AGENTE 1 – Boa noite. Polícia de Segurança Pública. Os vossos bilhetes de identidade, por favor.
CIDADÃO 1 – Desculpe? Qual é a razão disto?
AGENTE 1 – A razão é o que o seu colega estava a fazer.
(Queimava, com isqueiro, uma substância ilícita)
CIDADÃO 1 – Se essa é a razão, como os senhores sabem, a posse de haxixe não constitui prática de crime!
AGENTE 1 – Não é crime, mas é uma contra-ordenação!
CIDADÃO 1 – Então, se não é crime não existe razão para nos abordarem dessa forma e solicitarem os bilhetes de identidade…
CIDADÃO 2 – Isto é um abuso de poder! Os senhores sabem perfeitamente que nós não estamos a praticar qualquer crime…
AGENTE 1 – O seu bilhete de identidade, por favor…
CIDADÃO 2 – Não, primeiro quero ver a sua identificação…
AGENTE 1 – Porquê? Não a viu?
CIDADÃO 2 – Não, não vi…
AGENTE 1 – Primeiro, quero ver a sua…
CIDADÃO 2 – Aqui está…E a sua?
AGENTE 1- Está contente?
CIDADÃO 2 – Não. Não percebo a razão de nos estarem a incomodar se nós não estamos a incorrer em nenhum tipo de crime…
AGENTE 1 – Ai, não percebe?
CIDADÃO 2 – Não, não percebo…
AGENTE 1- Então, já viu onde é que nós estamos?
CIDADÃO 2- Onde é que nós estamos?
AGENTE 1 – Estamos em Alcântara.
CIDADÃO 2 – Sim e então?
AGENTE 1 – Então? Então, não sabe o que se passa em Alcântara.
Nesse momento, vários indivíduos pedem licença aos agentes de autoridade para passarem e dizem “Olha, os charrons, olha os charrons à paisana”.
CIDADÃO 1 – Ah, ah, ah.
CIDADÃO 2 – Ah, ah, ah.
CIDADÃO 3 – Ah, ah, ah.
CIDADÃO 4 – Ah, ah. ah.
CIDADÃO 5 – Ah, ah, ah.
CIDADÃO 2 – Continuo a não perceber a razão de nos estarem a incomodar…
AGENTE 1 – Do nosso trabalho, percebemos nós…
CIDADÃO 1 – O seu trabalho devia ser identificar e deter indivíduos apanhados em flagrante na prática de crime, o que não é o caso…Por exemplo, poderiam estar neste momento numa qualquer mansão da Quinta Marinha a deterem pessoas por tráfico de coca…Ou podiam andar uns metros e visitar algumas casas aqui em Alcãntara onde os senhores deveriam saber que existe prática corrente de tráfico de heroína e cocaína…
AGENTE 1 – O senhor está a querer arranjar problemas?
CIDADÃO 2 – Não, estou apenas a discordar dos seus critérios de actuação.
AGENTE 1 – Mostre-me o seu bilhete de identidade.
CIDADÃO 1 – Aqui está.
AGENTE 1 – O senhor Nuno é de 1974?
CIDADÃO 1 – Sim, alguns meses após o 25 de Abril, o que me permite estar a manifestar a minha opinião sobre a sua actuação.
AGENTE 1 – O senhor deve mesmo querer arranjar problemas?
CIDADÃO 1 – Porquê?
AGENTE 1 – O senhor está a levantar a voz.
CIDADÃO 1 – Sim, mas levantar a voz também não constitui prática de crime. Ou será que existe um limite de decibéis para manifestar a minha opinião.
O agente 1 telefona para a central a confirmar as identidades.
AGENTE 2 – Vocês têm de perceber o nosso trabalho. Eu também já estive desse lado.
CIDADÃO 2 – Não, nós não podemos perceber a razão de nos estarem a chatear.
CIDADÃO 3 – Sim, se querem encontrar alguma coisa, porque não entram no W? Ali, iriam encontrar alguma coisa de certeza.
AGENTE 2 – Eu percebo o vosso lado, mas vocês também têm que perceber o nosso trabalho.
Agente 1 acaba os telefonemas
AGENTE 1 – O Sr Nuno sabe que tem ficha na polícia?
CIDADÃO 2 – Provavelmente, deve ter sido multado por excesso de velocidade.
AGENTE 1 – Não, não foi uma multa de trânsito.
CIDADÃO 1- Nesse caso, existe uma ficha sem o meu conhecimento. Isso, sim, parece-me ilegal.
AGENTE 2 – O que o meu colega quer dizer é que se o senhor já apresentou queixa contra alguém, por exemplo, então tem ficha na polícia.
CIDADÃO 1 – Nesse caso, sou capaz de ter ficha. Mas não consigo perceber a relevância disso para nos terem incomodado.
AGENTE 1 – O senhor sabe porque é que nós viemos ter convosco?
CIDADÃO 1 – Sim, porque estávamos a fazer um charro.
AGENTE 1 – Sim, mas só viemos falar com os senhores porque vimos o que se passou à porta do W com a vossa amiga.
CIDADÃO 1 – Pois, foi pena que não tenham chegado mais cedo.
AGENTE 1 – Exactamente, se tivéssemos chegado mais cedo, podíamos ter intervido a vosso favor e obrigado a discoteca a pagar uma coima.
CIDADÃO 2 – Olhe, mas isto vai durar muito mais tempo? Nós não vos estamos a incomodar e os senhores não têm razões para nos incomodar a nós! Logo, o que é que ainda estamos aqui a fazer?
AGENTE 1 – Ai, o senhor quer ir-se embora?
CIDADÃO 1 – Quero.
AGENTE 1- Então, vá-se embora. Pode ir.
CIDADÃO 1 – Ah, ah, ah.
CIDADÃO 2 – Ah, ah, ah.
CIDADÃO 3 – Ah, ah, ah.
CIDADÃO 4 – Ah, ah, ah.
CIDADÃO 5 – Ah, ah, ah.
RELATÓRIO:
Os cidadãos que se encontravam na posse de substância ilícita não praticaram qualquer espécie de crime.
Agente-Chefe Silva
PSP Alcântara
Tão giros…
Já os estou a ver úteis à sociedade como nunca os vi ser:
“O seu B.I., por favor”, “Mas porquê, Sr. Agente?”, “Porque está com um bidão de 20 litros de gasolida a atear fogo ao Parque Nacional da Peneda Gerês”, “Mas foi o Sr. Almerácio que me mandou”, “Quem, o construtor da Almerácio & Pleonástio, Lda?”, “Sim, esse!”, “Ah, então pode seguir, por favor e desculpe o incómodo. E quando os indivíduos da TVI o forem incomodar, chame-nos, que nós intervimos a seu favor”…
Ainda antes de entrar no jipe: “não é assim, ateie do outro lado, a favor do vento… ainda queima as falanges”, e o inevitável humor policial português: “Veja lá não faça xixi na cama, ah ah ah ah”.
Ou até “Veja lá se não brinca com o fogo”…Santa paciência para aturar estas merdas!
Não disseste: “Ó xô guarda!”. Eles adoram ser chamados de xô guardas!!
Não, porque nesse momento uns blacks disseram “ó charron, ó charron à paisana” e eu fiquei sem palavras.
apresentáste queixa contra quem, seu charrón11????
Contra um vizinho, na Picheleira, que me furou 10 vezes os pneus do carro, rebentou as fechaduras e riscou a pintura…